Frase do Dia

"O silêncio também fala, fala e muito! O silêncio pode falar mesmo quando as palavras falham." Osho


"O silêncio é tão rico de palavras que ensinam os teus ouvidos a ouvirem teus segredos." William Senna

sábado, 25 de dezembro de 2010

Cultura Surda, o que é?

O essencial é entendermos que a cultura surda é como algo que penetra na pele do povo surdo que participa das comunidades surdas, que compartilha algo que tem em comum, seu conjunto de normas, valores e de comportamentos.

Devido às proibições de compartilhar uma língua cultural do povo surdo em resultado emitido pelo Congresso Internacional de Educadores de Surdos ocorrido em Milão, na Itália, em 1880, o uso de Língua de Sinais foi definitivamente banido a favor da metodologia oralista nas escolas de surdos. Daí em diante os alunos surdos foram proibidos de se comunicar usando a Língua de Sinais. O oralismo venceu a Língua de Sinais, que sofre preconceito até hoje.
A história se modificou com o trabalho de Willian Stokoe, o primeiro a pesquisar sobre a Língua de Sinais, um lingüista norte-americano e seu grupo de pesquisa que em 1965 publicou a celebre obra “A Dictionary of American Sign Language on linguistic principles”, na qual estudou e divulgou a Língua de Sinais Americana (ASL).
Seu trabalho incentivou o surgimento de vários outros estudos lingüísticos e mostrou que a língua faz parte da cultura e da comunidade surda.

A lingüista surda, Carol Padden (1989), estabeleceu uma diferença entre a cultura e comunidade.
Cultura - “Conjunto de comportamentos de um grupo que tem sua própria língua, valores, regras de comportamentos e tradições”.
Comunidade - “É um sistema social geral, no qual as pessoas vivem juntas, compartilham metas comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outras."

Para esta pesquisadora, “uma Comunidade Surda é um grupo de pessoas que mora em uma localização particular, compartilha as metas comuns de seus membros e, de vários modos, trabalha para alcançar estas metas.” Portanto, em uma Comunidade Surda pode haver também ouvintes, surdos que convivem com os dois mundos: ouvinte e surdo; e surdos que não convivem com outros surdos, pois convivem mais com o mundo dos ouvintes.
Já “a Cultura da pessoa Surda é mais fechada do que a Comunidade Surda. Membros de uma Cultura Surda se comportam como as pessoas surdas, usam a língua das pessoas Surdas e compartilham das crenças das pessoas Surdas entre si e com outras pessoas que não são Surdas.” 

Ser Surdo é saber que pode falar com as mãos e aprender uma língua gestual-visual, através dessa, é conviver com pessoas que, em um universo de barulhos, deparam-se com pessoas que estão percebendo o mundo, principalmente, pela visão, e isso faz com que elas sejam diferentes e não necessariamente deficientes.
A diferença está no modo de perceber o mundo e gerar valores que influenciarão no comportamento e tradição sócio-interativa. Este modus vivendi denomina-se Cultura Surda.

Resumindo, Perlin (2003) afirma:
“Cultura Surda é jeito surdo de ser, de perceber, de sentir, de vivenciar, de comunicar, de transformar o mundo de modo a torná-lo habitável.” 



Referências Bibliográficas:

FELIPE, Tanya A., MONTEIRO, Myrna S. LIBRAS em contexto: curso básico, livro do professor instrutor. Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos, Brasília: MEC, SEEP, 2001.

STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2008.





O que é a LIBRAS?

"A Língua de Sinais é, nas mãos de seus mestres, uma linguagem das mais belas e expressivas, para a qual, no contato entre si é como um meio de alcançar de forma fácil e rápida a mente do surdo, nem a natureza nem a arte proporcionaram um substituto satisfatório.”         J. Schuyler Long
                                                                                                                                

           A LIBRAS é a sigla da Língua Brasileira de Sinais, língua oficial da comunidade surda brasileira, reconhecida pela lei 10.436 de 24 de abril de 2002 e regulamentada pelo decreto 5626 de 22 de dezembro de 2005. A LIBRAS tem origem na LSF (Língua de Sinais Francesca) e foi sendo modificada com o tempo através da influência da cultura nacional.
           As Línguas de Sinais são as línguas naturais das comunidades surdas e possuem o status de língua, porque possuem estrutura gramatical própria nos níveis lingüísticos: fonológico, morfológico, sintático e semântico. O que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas orais-auditivas, são denominados sinais nas línguas de sinais. Os sinais são formados a partir da combinação do movimento das mãos com um determinado formato em um determinado lugar, podendo este lugar ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo. Estas articulações das mãos, que podem ser comparadas aos fonemas e as vezes aos morfemas, são chamadas de parâmetros.
          As línguas de sinais diferenciam-se das línguas orais por sua modalidade gestual-visual, que utiliza como canal ou meio de comunicação movimento gestual que são percebidos pela visão. Já a língua oral-auditiva utiliza como canal ou meio de comunicação sons articulados que são percebidos pelos ouvidos.
           Conforme FELIPE (2001), pesquisas sobre as línguas de sinais vêm mostrando que estas línguas são comparáveis em complexidade e expressividade a quaisquer línguas orais. Estas línguas expressam idéias sutis, complexas e abstratas. Os seus usuários podem discutir filosofia, literatura ou política, além de esportes, trabalho, moda e utilizá-la com função estética para fazer poesias, contar estórias, criar peças de teatro e humor.
          As línguas de sinais não são universais, existem várias línguas de sinais no mundo assim como as línguas orais. Essas línguas são diferentes umas das outras, e diferem das línguas orais de seus países. Por exemplo: Brasil e Portugal têm mesma língua: a Língua Portuguesa, enquanto as Línguas de Sinais destes países são diferentes. Igualmente acontece com os EUA e a Inglaterra. Também há casos de dois países usarem a mesma Língua de Sinais, por exemplo, os EUA e o Canadá, usam a ASL (American Sign Language).  Nas línguas de sinais existe também o regionalismo assim como ocorre nas línguas orais.
            Os usuários surdos das línguas de sinais comunicam-se com facilidades com usuários surdos de outros países, caso que não ocorre com os usuários das línguas orais. Isso acontece por causa das línguas de sinais serem icônica, que assemelham a objetos e também devido a capacidade de seus usuários utilizarem gestos e pantomimas na comunicação com expressões faciais e corporais.
           Ainda conforme FELIPE (2001), uma semelhança entre as línguas é que os usuários de qualquer língua podem expressar seus pensamentos diferentemente, por isso uma pessoa que fala uma determinada língua utiliza essa língua de acordo com o contexto, portanto o modo de se fala com um amigo não é igual ao de se falar com uma pessoa estranha, assim, quando se aprende uma língua, está aprendendo também a utilizá-la a partir do contexto. Outra semelhança também é que todas as línguas possuem diferenças quanto ao seu uso em relação á região, ao grupo social, a faixa etária e ao gênero. O ensino oficial de uma língua sempre trabalha com a norma culta, norma padrão, que é utilizada na forma escrita e falada e sempre toma alguma região e um grupo social como padrão.

Referência Bibliográfica:
FELIPE, Tanya A., MONTEIRO, Myrna S. LIBRAS em contexto: curso básico, livro do professor instrutor. Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos, Brasília: MEC, SEEP, 2001.


Livros sobre a vida dos Surdos

Para aqueles que tem interesse, curiosidade em conhecer mais, se aprofundar no Mundo dos Surdos e na Cultura Surda, recomendo os seguintes livros:


As imagens do outro sobre a cultura surda. Karin Strobel.  
Florianópolis: Ed. da UFSC, 2008.



Nesta jornada trazida por Karin Strobel, os leitores chegam ao fim para construir um outro olhar sobre os surdos. Os surdos, portanto, fazem parte de um acontecimento que é compartilhado pela autora por meio destas trilhas.






O Vôo da Gaivota. Emmanuelle Laborit. São Paulo: Ed. Best Seller.





"A gaivota cresceu e voa com suas próprias asas. Olho do mesmo modo com que poderia escutar. Meus olhos são meus ouvidos. Escrevo do mesmo modo que me exprimo por sinais. Minhas mãos são bilíngües. Ofereço-lhes minha diferença. Meu coração não é surdo a nada neste duplo mundo..."   Emmanuelle Laborit 



Neste livro, Emmanuelle Laborit mostra porque é uma mulher especial. Com seu talento, ela superou a limitação da surdez absoluta para alçar vôos gloriosos e felizes como atriz e escritora. As dificuldades, longe de a empurrarem ao fracasso, a encheram de energia, ampliaram sua vontade e a levaram ao sucesso!


Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. Oliver Sacks.
São Paulo: Companhia das Letras, 1998.


"Os surdos podem comunicar-se mais facilmente e com maior precisão pela Língua de Sinais, porque o cérebro deles se adapta para esse meio e, se forçados a falar, nunca conseguirão uma linguagem eficiente e serão duplamente deficientes."    Oliver Sacks 



“Numa incursão pelo universo dos surdos, Oliver Sacks preocupa-se não simplesmente em apresentar ao leitor a condição daqueles que não conseguem ouvir. Acompanhando a história, os dramas e as lutas dessas pessoas, o leitor será levado a olhar para o seu próprio cotidiano de um modo diferente.”

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Você precisa Ser Surdo para entender



Autores: Willerd e Madsen
Como é "ouvir" uma mão?
Você precisa ser surdo para entender!
O que é ser uma pequena criança
na escola, numa sala sem som
com um professor que fala, fala e fala
e, então quando ele vem perto de você
ele espera que você saiba o que ele disse?
Você precisa ser surdo para entender!
Ou o professor que pensa
que para torná-lo inteligente
você deve, primeiro, aprender
como falar com sua voz
assim colocando as mãos no seu rosto
por horas e horas
sem paciência ou fim
até sair algo indistinto
assemelhado ao som?
Você precisa ser surdo para entender!
Como é ser curioso
na ânsia por conhecimento próprio
com um desejo interno
que está em chamas
e você pede a um irmão, irmã e amigo
que respondendo lhe diz:
"Não importa"?
Você precisa ser surdo para entender!
Como é estar de castigo num canto
embora não tenha feito
realmente nada de errado
a não ser tentar fazer uso das mãos
para comunicar a um colega silencioso
um pensamento que vem, de repente, a sua mente?
Você precisa ser surdo para entender!
Como é ter alguém a gritar
pensando que irá ajudá-lo a ouvir
ou não entender as palavras
de um amigo que está tentando
tornar a piada mais clara
e você não pega o fio da meada
porque ele falhou?
Você precisa ser surdo para entender!
Como é quando riem na sua face
quando você tenta repetir o que foi dito
somente para estar seguro que você entendeu
e você descobre que as palavras foram mal entendidas?
E você quer gritar alto:  "Por favor, me ajude, amigo!”
Você precisa ser surdo para entender!
Como é ter que depender de alguém
que pode ouvir para telefonar a um amigo
ou marcar um encontro de negócios
e ser forçado a repetir o que é pessoal
e, então, descobrir que seu recado
não foi bem transmitido?
Você precisa ser surdo para entender!
Como é ser surdo e sozinho
em companhia dos que podem ouvir
e você somente tenta adivinhar
pois não há ninguém lá com uma mão ajudadora
enquanto você tenta acompanhar
as palavras e a musica?
Você precisa ser surdo para entender!
Como é estar na estrada da vida
encontrar com um estranho que abre a sua boca
e fala alto uma frase a passos rápidos
e você não pode entendê-lo e olhar seu rosto
porque é difícil e você não o acompanha?
Você precisa ser surdo para entender!
Como é compreender alguns dados ligeiros
que descrevem a cena
e fazem você sorrir e sentir-se sereno com
a "palavra falada' de mão em movimento
que torna você parte deste mundo tão amplo?

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O Ser Surdo

O que significa "Ser Surdo"?

Esse é um termo amplamente profundo e não significa apenas que uma pessoa não ouve ou não possui audição.
Segundo pesquisas do americano James Woodward em 1972, que criou as designações de “Surdo” e “surdo”, o termo com letra maiúscula é usado para aqueles que se identificam com a identidade e cultura surdas, enquanto que o mesmo termo em letra minúscula é aplicado àqueles que têm apenas problemas de audição.

Emmanuelle Laborit (2000) em seu livro: “Vôo da Gaivota” afirma:
“Sou surda não quer dizer: “Não ouço.” Quer dizer: “Compreendi que sou surda.” É uma frase positiva e determinante. Na minha mente, admito que sou surda, compreendo-o, analiso-o, porque me deram uma língua que me permite fazê-lo. Compreendo que os meus pais têm a sua própria língua, a sua maneira de comunicar e que eu tenho a minha. Pertenço a uma comunidade, tenho uma verdadeira identidade.”             
                                                                              
Ser Surdo é quem se considera membro de uma comunidade linguística e cultural diferente. O grau de surdez não importa, o mais importante para se poder pertencer à comunidade surda é o uso da língua gestual como primeira língua (L1) ou língua natural. É esta língua que permite aos surdos afirmar a sua diferença e sua identidade.
Segundo PERLIN (1998), ser surdo é pertencer a um mundo de experiência visual e não auditiva.
Viver uma experiência visual é ter a Língua de Sinais, a língua visual, pertencente a outra cultura, a cultura visual e lingüística.
A língua gestual é a minha verdadeira cultura. O gesto, esta dança de palavras no espaço, é a minha sensibilidade, a minha poesia, o meu íntimo, o meu verdadeiro estilo. Pois afirmo com absoluta certeza que a língua gestual é a primeira língua, a nossa, a que nos permite ser seres humanos “comunicantes."   LABORIT( 2000).    
Posso afirmar com orgulho, que amo ser Surda, possuo minha identidade, cultura e língua visual. Posso ver, vivenciar e aprender o mundo com meus olhos, que são meus ouvidos!